Silhuetas da noite

quinta-feira, agosto 18, 2005


Sempre gostei de andar de noite, andar até doerem as pernas, como se lutasse para atingir um objectivo no ponto mais distante, sendo que quero apenas sentir a cidade, de noite.
É curioso como o ritmo brando e sinistro da noite sempre assustou as pessoas, mas para mim sempre foi atraente na proporção da densidade do escuro. A noite não distrai a visão, deixando a atenção disponivel para o concreto e o resto com a imaginação.
Se o bom da cidade são as pessoas porque será que gosto tanto da noite, quando a ausência humana se sente mais fortemente. Será o meu descanso do prazer que me todos me dão com a sua presença, sim, porque as pessoas cansam quando não se cansam e ficam em casa de noite, mudando a forma da cidade com luzes de janelas desordenadas no escuro criando a ilusão de vida para lá dessas janelas, quando apenas uma televisão as mantém ligadas à terra, que as espera serenamente independentemente do que fizeram.
O que eu realmente gosto é do recorte do céu pelos prédios que se juntam sem saber e traçam trajectos incompreensiveis mas relaxantes, que nos aguçam a imaginação tal como o sonho das formas das nuvens.

hihihi

segunda-feira, agosto 15, 2005

A risada em forma de gargalhada de um filho é das melhores terapias de alegria que se pode ter... ainda bem que as tenho todos os dias!
Já agora, aplica-se o mesmo a ti! Senão aplica-te porque podes chegar a velho(a) sem rugas.
O sonho do Artur

quinta-feira, agosto 11, 2005

A robustez e corpulência grandiosa de Artur enganava o menos atento, a sua personalidade era suave como seda, falava sempre com uma voz meiga de quem não quer acordar um sono tranquilo. Andava sempre a sorrir simpatia para todo o tipo de objecto, era como se deixasse um rasto de vida repleta de satisfação, ou pelo menos assim era aos olhos de Artur, onde uma pedra ou uma flor tinham a mesma importância no seu universo, era capaz de passar horas de olhos fechados a sentir o vento e a deliciar-se com o som das folhas das árvores.

Toda esta capa de alegria escondia um homem perdido na busca infindável de um objectivo a atingir para se sentir realizado, Artur precisava de um toque mágico na sua máquina de sonhos porque não conseguia ter um grande e belo sonho, um sonho daqueles que nos controla a vida e canaliza todo o nosso esforço e vontade sobre tudo o resto, que nos obriga a torná-lo realidade ao acordar, ficando sem saber o que é a lucidez, que nos coloca numa zona de indefinição onde as linhas de fronteira do real e imaginário são flutuantes e transparentes. Artur ansiava por esta liberdade de estar com um pé no mundo mundano e outro num sonho épico, por isso mesmo tentava absorver tudo o que o rodeava na tentativa de captar algum sinal que ligasse no seu subconsciente o gerador dos grandes sonhos, como seria bom dormir sem adormecer deixando o corpo embalar num sonho de vida pura!

Todos nós temos pelo menos um ou mais sonhos, que no fundo são o nosso impulso para continuar a viver, esses sonhos podem ir de coisas simples como por exemplo ganhar mais dinheiro até aos mais complexos tal como a felicidade, amor, fraternidade. Artur não era exigente, queria apenas um, exequível ou não o que interessava era tê-lo, poder dizer alto o que queria e que sonhava constantemente com isso, que lutava todos os dias pelo seu sonho e quem sabe se já podia sonhar com outro objectivo, sim quem sabe?

Artur andava mesmo distraído, com uma cegueira doentia de tacto rugoso e escamado, nunca reparou que tinha o mais complicado dos sonhos e que durou toda a sua vida, acabou por sentir sem saber apenas um sonho, e pelo maior período de tempo possível, o de uma vida.

O seu sonho era ter um sonho!

O inevitável

segunda-feira, agosto 08, 2005

Quando apareceste nada sentiste
nem tu nem eu, senão um pequeno rasgo de emoção
de uma aragem que nem sementes leva ao chão,
apenas a razão, de que algo existe.

Nunca foste importante para mim,
Mas será que devias?
Acabaste por o ser sem saber, assim
sem querer, enquanto te divertias.

Labirintos de portas por abrir,
que bom, partilhar os mesmos coloridos corredores,
sem pensar na tristeza de sair
a molhar-me com lágrimas das tuas cores.

Cruzar-me com os teus olhos e ver o meu reflexo
sempre foi um deleite involuntário.
Foi sempre como sentir o amor em anexo,
de uma indiferença a caminho do calvário.

Os teus gritos de vida solitária e torcida
vibraram a minha pele, e antes que me zangue
já tenho a paz do teu cheiro absorvida
a tua luxúria já me inundou o sangue.