O sonho do Artur

quinta-feira, agosto 11, 2005

A robustez e corpulência grandiosa de Artur enganava o menos atento, a sua personalidade era suave como seda, falava sempre com uma voz meiga de quem não quer acordar um sono tranquilo. Andava sempre a sorrir simpatia para todo o tipo de objecto, era como se deixasse um rasto de vida repleta de satisfação, ou pelo menos assim era aos olhos de Artur, onde uma pedra ou uma flor tinham a mesma importância no seu universo, era capaz de passar horas de olhos fechados a sentir o vento e a deliciar-se com o som das folhas das árvores.

Toda esta capa de alegria escondia um homem perdido na busca infindável de um objectivo a atingir para se sentir realizado, Artur precisava de um toque mágico na sua máquina de sonhos porque não conseguia ter um grande e belo sonho, um sonho daqueles que nos controla a vida e canaliza todo o nosso esforço e vontade sobre tudo o resto, que nos obriga a torná-lo realidade ao acordar, ficando sem saber o que é a lucidez, que nos coloca numa zona de indefinição onde as linhas de fronteira do real e imaginário são flutuantes e transparentes. Artur ansiava por esta liberdade de estar com um pé no mundo mundano e outro num sonho épico, por isso mesmo tentava absorver tudo o que o rodeava na tentativa de captar algum sinal que ligasse no seu subconsciente o gerador dos grandes sonhos, como seria bom dormir sem adormecer deixando o corpo embalar num sonho de vida pura!

Todos nós temos pelo menos um ou mais sonhos, que no fundo são o nosso impulso para continuar a viver, esses sonhos podem ir de coisas simples como por exemplo ganhar mais dinheiro até aos mais complexos tal como a felicidade, amor, fraternidade. Artur não era exigente, queria apenas um, exequível ou não o que interessava era tê-lo, poder dizer alto o que queria e que sonhava constantemente com isso, que lutava todos os dias pelo seu sonho e quem sabe se já podia sonhar com outro objectivo, sim quem sabe?

Artur andava mesmo distraído, com uma cegueira doentia de tacto rugoso e escamado, nunca reparou que tinha o mais complicado dos sonhos e que durou toda a sua vida, acabou por sentir sem saber apenas um sonho, e pelo maior período de tempo possível, o de uma vida.

O seu sonho era ter um sonho!