Silhuetas da noite

quinta-feira, agosto 18, 2005


Sempre gostei de andar de noite, andar até doerem as pernas, como se lutasse para atingir um objectivo no ponto mais distante, sendo que quero apenas sentir a cidade, de noite.
É curioso como o ritmo brando e sinistro da noite sempre assustou as pessoas, mas para mim sempre foi atraente na proporção da densidade do escuro. A noite não distrai a visão, deixando a atenção disponivel para o concreto e o resto com a imaginação.
Se o bom da cidade são as pessoas porque será que gosto tanto da noite, quando a ausência humana se sente mais fortemente. Será o meu descanso do prazer que me todos me dão com a sua presença, sim, porque as pessoas cansam quando não se cansam e ficam em casa de noite, mudando a forma da cidade com luzes de janelas desordenadas no escuro criando a ilusão de vida para lá dessas janelas, quando apenas uma televisão as mantém ligadas à terra, que as espera serenamente independentemente do que fizeram.
O que eu realmente gosto é do recorte do céu pelos prédios que se juntam sem saber e traçam trajectos incompreensiveis mas relaxantes, que nos aguçam a imaginação tal como o sonho das formas das nuvens.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostava de celebrar os parabéns ao autor pelo seu divagar na noite.
Claro que a noite não é vivida por todos da mesma maneira, por isso aqui fica mais uma impressão.

Ah, a noite! A noite não é assim tão solitária. Por elam caminham corpos com destino....outros sem destino certo.Quem caminha de noite sente bem quem passa, porque o pouco que passa partilha com ela a cumplicidade da noite.
Lá no alto naquelas janelas iluminadas mora gente. Gente que sente, talvez de mansinho, talvez intensamente, mas vive! E é esta gente que faz a cidade! E é esta cidade que nos aguça a imaginação e nos mostra o quão vivos estamos!

9:55 da tarde  

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