O adulto normal

sexta-feira, outubro 14, 2005

Lá ia o puto rua abaixo todo penteado a riscar os sapatos com pontapés nas pedras entrelaçando uns assobios conquistadores que nitidamente acicatavam a promissora rebeldia. Por onde passava pontapeava todas as pedrinhas, ia o pé lançado contra uma pedra e a visão de mira já tinha focado o próximo projéctil. O puto não ligava nada aos outros putos mas claro que os outros putos eram a justificação dos seus pontapés, enquanto procurava num canto dos olhos uma pedra, rapidamente sondava o outro canto de forma disfarçada em busca dos outros putos. Na cabeça zangada deste puto mede-se a relevância do puto pela quantidade de pontapés em pedras de todos os tamanhos, de todos os tamanhos como os putos, e tal como mandam as regras de puto o que interessa é a quantidade, logo o rei do pontapé no calhau é sempre alguém de calçado desarranjado.

Curioso que para se ser rei, na cabeça do puto, é preciso arrastar os sapatos rotos, olhar para o chão e depois aniquilar os outros com um mirar para cima e no meio disto tudo dar pontapés no que aparecer à frente, e simultaneamente partir do principio que na cabeça dos outros também vai esta confusão toda para não ficar desmoralizado logo na primeira dor de uma pedra mais dura. E tantas vão ser as dores e o tempo perdido, para não falar nos sapatos estragados.

Porque raio o puto não faz como os outros putos e corre mas é tudo à pedrada e faz novos amigos, com a improvável previsão do local de queda dos projécteis muitos vão ser os encontros casuais, desta forma todos ficam a saber o que quer o puto e não o puto apenas.