A sombra

sábado, julho 16, 2005


Não me larga, nem quero deixar de tentar dar-lhe a mão, se conseguisse…

Quando vejo luz já sei onde está ela, sempre do lado oposto, a perturbar não sei o quê, nem sei se a mim, ou a outra, ou até a outra coisa!

Só sei que é minha, que me persegue, que se molda a mim e sem mim não tem forma. Tudo o que tem forma tem sombra, mas esta sombra tem a minha forma de sobra, o que será que quer de mim?

Será que apenas procura a minha forma, ou mais de mim, é que assim não consegue, se apenas me persegue, a forma. E porque será que a minha forma é disforme conforme o olhar da sombra, que é minha?.

Eu até podia deixar-me apanhar e dar-lhe o que ela queria, mas ela queria o quê? Quando paro, paro-a também, e sei que não é ninguém que ali está, é ela! A imitar-me por cima de tudo, ofuscando superfícies com a minha forma de uma maneira tão fluida que duvido que afinal seja a minha representação ao sentimento de algo que me vê do outro lado da luz.

Afasta-se tanto de mim quando a luz vai longe, como pode fugir do seu foco de vida e usar-me como monte que esconde o sol e observa calmamente uma estranha dança de formas que se espalham no seu horizonte.

Porque desaparece no escuro? Porque não aparece quando lhe sinto a falta, de não sei o quê?

Às vezes sinto a falta dela, mesmo com total ausência de odor sinto-a, o seu cheiro vê-se pelo brilho que me rodeia e é gasto por ela, consome o que eu desperdiço, de brilho, e eu não me importo, gosto até.

Só queria saber porquê, não sei o quê.